sábado, 20 de outubro de 2007

RECEITA PARA MUDAR A ESCOLA

O artigo desta semana é de Cristovam Buarque, que já assumiu os cargos de ministro da Educação e reitor da universidade de Brasília. Atualmente é senador da república.
“Todos os anos, o Brasil assiste envergonhado à divulgação dos dados estatísticos que retratam o aproveitamento dos alunos da educação básica. Envergonhado e passivo, pois não há indícios de que os resultados mudarão no futuro próximo, sem que haja uma revolução educacional. O desempenho dos estudantes brasileiros de ensino médio piorou, segundo duas avaliações divulgadas recentemente. De acordo com o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – Saeb, as notas médias de Português e Matemática caíram em relação ao teste anterior. Resultado similar é apontado pelo Exame Nacional do Ensino Médio -Enem, que mostra um menor rendimento na redação e na prova objetiva. Os alunos de 8ª série do ensino fundamental também tiveram notas mais baixas em Português e Matemática. Só houve melhora entre os alunos da 4ª série, mas o desempenho ainda é considerado crítico em Língua Portuguesa e intermediário em Matemática. O fato é que, no Brasil, a educação básica não recebe a atenção necessária. E seguimos figurando entre as nações com os piores desempenhos na educação de suas crianças. Ainda mais grave é o fato de sermos o pior país entre aqueles que têm nosso nível de renda, potencial econômico, massa crítica de profissionais. Nenhum país do mundo tem, ao mesmo tempo, tantos alunos universitários e tantas crianças fora da escola, e um ensino de tão má qualidade. Temos recursos para mudar essa realidade. Precisamos, primeiramente, criar uma mania por educação. Disseminar a visão de que o futuro de cada país, inclusive seu desenvolvimento econômico, depende da educação. Até 1970, Irlanda, Espanha e Coréia eram países iguais ao Brasil, talvez menos promissores. Em pouco mais de 30 anos, deram um enorme salto econômico, resultante de altos investimentos na educação, especialmente, de crianças e jovens. Segundo, devemos entender que a escola é, acima de tudo, o professor. É preciso valorizá-lo, exigir dele motivação e dedicação, mas garantir boa formação e remuneração. Se quisermos uma boa escola para o Brasil, e que toda criança tenha o mesmo direito à educação, é preciso acabar com a desigualdade na sua formação. Não teremos educação de qualidade para todos se nossos professores não tiverem remuneração digna, se seus salários forem deixados a critério de prefeitos e governadores que nem sempre dão prioridade à educação e, raramente, possuem os recursos necessários para pagar bem e oferecer formação. O Brasil precisa valorizar os professores, respeitá-los, garantir-lhes uma remuneração inicial mínima, um piso salarial que atraia para o magistério os profissionais mais preparados. Está tramitando no Congresso Nacional um projeto de Lei que cria o Piso Salarial Profissional dos Educadores Públicos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Ele estipula um limite mínimo para o salário mensal inicial das carreiras dos professores, de acordo com o seu nível de formação. Se aprovado, ele garantirá aos professores com jornada de 40 horas semanais e habilitação em nível médio um salário inicial de R$ 800, e de R$ 1.100 para os habilitados em nível superior. Essa lei resgata a histórica dívida que o Brasil tem com seus educadores, hoje obrigados a múltiplas jornadas ou vários empregos, sujeitos a salários vergonhosos e ao desestímulo profissional. Sua aplicação custará muito menos do que o Brasil tem condições de pagar. E nos ajudará a disseminar a importância do trabalho do professor. É ele quem constrói o futuro e nos fornece o maior capital que um país pode ter: um povo educado.”
Revista Profissão Mestre!

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